Uma história que alguns brasileiros ainda relutam em enfrentar ganha os olhos do mundo. Hoje, 23 de janeiro de 2025, o filme “Ainda Estou Aqui” foi indicado a três categorias do Oscar 2025: de Melhor Filme, Filme Internacional e Melhor Atriz. Mais do que uma conquista do cinema, o filme é um grito por justiça e memória, em um momento em que muitos ainda persistem em negar a realidade e os horrores de uma ditadura militar que devastou o Brasil entre1964 a 1985.

O longa, que sensibilizou jurados e espectadores ao redor do mundo, narra o desespero silencioso e luta escancarada de Eunice Paiva, esposa do deputado Rubens Paiva, que foi levado de sua casa por agentes do Estado em 1971, sob pretexto de esclarecimentos. E nunca mais voltou. Ele foi torturado e desapareceu sob a tutela do regime militar. Por 25 anos, Eunice lutou para que o Brasil reconhecesse oficialmente a execução de seu marido. Ela enfrentou não só a brutalidade do silêncio imposto pelo Estado, como também a violência da negação. Por 25 anos.

A indicação de “Ainda Estou Aqui” ao Oscar é, portanto, uma conquista que extrapola as telas. É um convite para que o Brasil - e o mundo - encare de frente sua história dolorosa.  

Em 1971, mesmo ano do desaparecimento de Rubens Paiva, nascia a Fenae, em meio a um contexto de dor e violência, mas também de resistência. Para a Fenae, que nasceu neste momento, defender a democracia e a dignidade é um compromisso permanente. Uma luta diária para proteger os direitos dos trabalhadores e reforçar a memória de um período que jamais pode ser esquecido.

Os sindicatos, que representavam uma força coletiva em defesa dos trabalhadores, também estiveram na mira da ditadura. Foram anos de perseguição, intervenções e censura, mas também de resistência. 

É por isso, também, que a indicação desse filme é tão simbólica. Entre tentativas de revisionismo histórico, em que se busca negar ou minimizar os horrores da ditadura, é também papel de entidades como a Fenae e os sindicatos manter viva a memória de quem sofreu e lutou. Ele mostra ao mundo que a ditadura não foi só uma questão política; foi uma questão social, trabalhista e humana. Cada trabalhador que perdeu sua voz, cada família despedaçada e cada cidadão morto ou desaparecido por resistir à brutalidade carrega uma parte dessa história que não pode ser apagada.

Infelizmente, até hoje há quem negue e relativize as atrocidades da ditadura militar. São vozes que tentam transformar torturadores em heróis e vítimas em inimigos do Estado. Mas o reconhecimento internacional de “Ainda estou aqui” é um lembrete de que a verdade não pode ser esquecida, por mais que tentem.

A história de Eunice Paiva é um símbolo de coragem e resiliência. Que essa indicação ao Oscar seja não apenas um reconhecimento artístico, mas um estímulo para que continuemos lutando por memória, verdade e justiça.

Porque enfrentar o passado é o único caminho para garantir um futuro democrático e justo para todos os brasileiros. Porque lembrar é resistir, e resistir é o que nos mantém vivos. A Fenae ainda está aqui. Porque a luta não acabou.


Sergio Takemoto
Presidente da Fenae