Cinquenta e um ano depois, muito a comemorar. Neste domingo (29), a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) celebra mais de meio século de unidade, lutas e conquistas na promoção do bem-estar dos trabalhadores. Brasil afora, sob o protagonismo das 27 Apcefs afiliadas, as comemorações pela passagem da data fazem parte de um movimento nacional no qual a defesa do banco público e social, a valorização dos direitos dos empregados e a reafirmação da democracia consolidam o modelo associativo das entidades representativas. Essas realizações estão refletidas no princípio de que a boa luta faz da Fenae um ponto de referência para o Brasil, para a Caixa e para a classe trabalhadora.
“Vai-se, praticamente, mais de meio século de muita resistência, afirmação e de muito trabalho coletivo. Sempre prevaleceu a mobilização por uma Caixa 100% pública a serviço do país e de sua população, combinada com a luta em favor do bem-estar do pessoal do banco, por condições decentes de trabalho e por nenhum direito a menos”, pontua o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. Ele lembra que a atuação da entidade tem sido marcada pelo compromisso com a redução das desigualdades sociais no país.
Ao longo de cinco décadas e um ano, a Fenae coleciona histórias, mobilizações e realizações, permeadas por um cenário de passeatas, atos, manifestações e greves em torno da experiência de cada gestão e da contribuição singular de muitos bancários, os em atividade e os aposentados. Aliás, a Fenae se faz presente onde há empregado da Caixa lutando por seus direitos. “A dinâmica é a de seguir conquistando, por uma Caixa pública, de caráter social, mais forte e que valorize os empregados, atuando ao mesmo tempo para promover o bem-estar dos associados das Apcefs e para oferecer benefícios exclusivos”, reitera Sergio Takemoto.
Essa trajetória foi iniciada em 29 de maio de 1971, durante o 6º Congresso Nacional das Associações do Pessoal, em Curitiba (PR), quando a Fenae surgiu como uma pequena associação que amadureceu depois na forma de uma organização combativa, forte e representativa. Tudo ocorreu em um momento muito peculiar, com mudanças nas condições dos empregados da Caixa. A unificação das Caixas Econômicas nos estados, dando lugar à Caixa Econômica Federal entre 1969 e 1970, veio acompanhada da mudança do regime de contratação dos seus empregados, passando de funcionários públicos federais para empregados regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Com a unificação da Caixa, era inevitável a criação de uma entidade nacional que congregasse as associações estaduais que já existiam e que fortalecesse o movimento associativo nacional. Até então, os empregados da Caixa eram proibidos de se sindicalizarem e a jornada de trabalho era de oito horas, diferente dos demais bancários, cuja jornada era de seis horas. Algumas Apcefs e a Fenae tiveram atuação importante no movimento que reivindicava o direito à sindicalização junto aos sindicatos dos bancários e a jornada de seis horas, culminando com a primeira greve nacional dos empregados do banco, em 30 de outubro de 1985. Esse processo esteve combinado com o enquadramento dos auxiliares de escritório, numa luta vitoriosa que marcou a Fenae para sempre.
Desde então a defesa da Caixa como banco público e de caráter social é uma pauta permanente na agenda da Fenae. A entidade não se limita ao seu caráter de classe, pois atua em uma ampla variedade de ações, tendo como missão a promoção do bem-estar dos empregados da Caixa. Seja organizando atividades ou apoiando as Apcefs, incentiva os esportes nacionais e regionais, a cultura, as atividades sociais, a formação, a comunicação e as ações de responsabilidade social, com respeito ao meio ambiente e ao desenvolvimento humano, aliadas com a capacidade de gestão e com a visão estratégica no campo empresarial.
Para Marcos Saraiva (Marcão), vice-presidente da Fenae, uma tarefa importante para o período é aprofundar ainda mais a aproximação com as Apcefs. Ele emenda: “Precisamos ampliar o diálogo com as Associações de Pessoal da Caixa, para permitir a realização de mais atividades regionais e, consequentemente, atrair novos associados. Entidades fortes e empregados ao lado de seus representantes são essenciais para derrotar a ideia nefasta de privatização e fatiamento do banco”.
Movimento coletivo e permanente
Uma constatação: a Fenae foi criada como um movimento em determinada direção, que surge em contraposição ao autoritarismo, corrige vícios e consolida a unidade para conquistar sempre mais. Segundo Sergio Takemoto, o trabalho da entidade é assim: sempre criando, montando, construindo, descobrindo e avançando. Ele aponta que a atuação da Fenae e das Apcefs tem o propósito de integrar os empregados da Caixa por intermédio de eventos políticos, sociais, culturais e esportivos realizados pelo Brasil, ficando cada vez mais nítido que o bem-estar dos associados passa pelo fortalecimento das Apcefs.
Registre-se ainda que a atuação da Fenae está traduzida, de forma direta, na promoção de jogos nacionais, Rede do Conhecimento (plataforma de educação), Inspira (evento de troca de experiências profissionais e pessoais), Movimento Solidário (programa de responsabilidade social), Talentos Fenae/Apcefs (concurso cultural), #ProntoFalei (evento idealizado para a juventude) e no apoio à programação organizada pelas entidades do movimento associativo, como Dia do Saci, Jogos Regionais, festejos de São João, Colônias de Férias e Corrida Fenae do Pessoal da Caixa, culminando no planejamento e execução de projetos voltados para cada Apcef.
Em parceria com a ONG criada por empregados da Caixa, originada dos Comitês de Ação da Cidadania formados em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza – o Betinho, a Fenae se une à Moradia e Cidadania em projetos de desenvolvimento sustentável em comunidades carentes situadas no entorno das sedes das Apcefs, com foco nos eixos da educação, segurança alimentar e inclusão produtiva.
Em relação aos aposentados e pensionistas, associados às Apcefs, a defesa do bem-estar e a ampliação dos direitos, mantendo os que já existem, aparecem em programas como o Meu Ideal e o Arena Fenae Jogos Clássicos, além de cursos dentro das plataformas da Rede do Conhecimento, Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Nosso Valor e Convênios.
O leque de interesses é vasto e vem sendo marcado por uma história arrojada, eficiente, democrática, ética e transparente. Há desde parcerias vitoriosas com o movimento nacional da categoria bancária, até a atuação articulada com entidades do movimento sindical e dos movimentos sociais, passando por lutas pontuais pelo direito à moradia, defesa do meio ambiente e das minorias indígenas e raciais, direito de greve, jornada de seis horas, direito à sindicalização, plano de cargos e salários, estabilidade no emprego, aposentadoria complementar (Funcef), plano de saúde (Saúde Caixa), reajustes salariais e condições dignas de trabalho.
A busca para ampliar a contratação de mais empregados pela Caixa é uma luta permanente das entidades do movimento associativo. Desde a sua origem, em 1971, a Fenae ostenta uma trajetória marcada pelos acontecimentos que impulsionam a organização e a mobilização dos empregados da Caixa por todo o país. Prioridades são dadas para as campanhas em defesa do banco público/social e contra as mazelas privatistas dos governos de plantão.
O diretor de Comunicação e Imprensa da Fenae, Moacir Carneiro, diz que a celebração dos 51 anos forma o momento para uma ampla reflexão sobre o seu alcance e significado. “Trata-se de recuperar a credibilidade do Estado Democrático de Direito como mediador confiável e competente do destino da sociedade e de seu desenvolvimento”, pondera.
De acordo com Jair Pedro Ferreira, diretor de Formação da Fenae, os desafios para o país não serão equacionados por uma nova onda de privatizações, como querem o atual governo federal e a gestão Pedro Guimarães. “As privatizações, na Caixa e em outras estatais, concentram ainda mais a renda e definham o poder indutor do Estado brasileiro, consolidando uma tragédia e aprofundando o oposto do que o país mais necessita”, denuncia.
O diretor de Administração e Finanças da Fenae, Cardoso, convoca todos os setores da sociedade brasileira a levantarem-se em defesa da Caixa pública e contra a retirada de direitos dos trabalhadores. “Como a nave Brasil está completamente desgovernada, com desemprego alto, crise de credibilidade e economia sem rumo, a resposta precisa ser mais democracia, mais investimento público, melhor planejamento urbano e maior presença do Estado na articulação do esforço de inversões de políticas públicas”, raciocina.
Destacam-se ainda ações empreendidas pela Fenae para defender a democracia e a transparência na gestão da Funcef e do Saúde Caixa. Para Fabiana Matheus, diretora de Saúde e Previdência, a Fenae sempre agiu na linha de frente em defesa da participação dos empregados na gestão do fundo de pensão. “A presença dos participantes e a atuação do movimento dos trabalhadores contribuíram para o crescimento patrimonial e para a melhoria de benefícios na Funcef”, argumenta. Segundo ela, pesquisa recente da Fenae sobre a saúde dos bancários revela que o modelo de gestão, a pressão por metas, a sobrecarga de trabalho e o assédio moral afetam negativamente a saúde dos empregados, com um quadro que apresenta piora a cada dia.
Movimento de raízes profundas
Passados 51 anos, não há lugar para nenhuma dúvida: a Fenae atua como um aviso, uma lembrança, um espelho para que os empregados da Caixa se vejam. Essa força moral vem da justeza de diversas reivindicações e da simpatia e admiração que sua ousadia desperta ao desafiar o poder autoritário. A Fenae representa, portanto, um movimento de raízes profundas e antigas, questionando diretamente a estrutura viciada e distorcida no âmbito de um banco público com o perfil da Caixa.
Nestes 51 anos, a Fenae reafirma o que tem sido a razão de sua existência: a luta por uma outra Caixa e que seja melhor. Uma Caixa melhor significa poder ser diferente da atual. Uma Caixa que aprimore cada vez mais suas funções, com essa percepção chegando de forma mais clara a toda a sociedade.
“Até conseguirmos essa Caixa nova, não vamos desistir. Aqui estaremos, incomodando e fazendo encontros, lutando, negociando, escrevendo comunicados, até que alcancemos a Caixa que queremos. Nosso objetivo é ‘cidadanizar’ o processo político”, diz o presidente da Fenae. Ele entende que a democracia não é só uma questão eleitoral, mas abarca outros aspectos de um país. E avalia: “O futuro da Caixa precisa ser construído com participação”.
Rachel Weber, diretora de Políticas Sociais, afirma que a Fenae se coloca no campo progressista da política brasileira. E cada vez mais, segundo ela, busca aprofundar a lógica oposta ao autoritarismo. “Ao completar 51 anos em 29 de maio, a Fenae ressalta o seu protagonismo no espaço democrático nacional, para renovar a correlação de forças do desenvolvimento em favor da população. A eleição presidencial de outubro serve a esse credenciamento, o resto é retrocesso”, conclui.